quarta-feira, 16 de março de 2011

Desenho Contemporâneo

Obra premiada no 7 Salão de Arte SESC-AP. Prêmio Incentivo: desenho.
Você é o que consome? Ronne Dias. Nanquim s/ pratos de isopor. 2008.

Este trabalho é apresentado em uma série de desenhos sobre bandejas de isopor, o qual recebe o título de: Você é o que consome? A minha proposta artística é de construir relações com o consumismo “comestível” e o estado de qualidade de vida de nossa sociedade contemporânea urbana.
Faço uma abordagem do cotidiano, da falta de tempo de preparar a comida ou até mesmo de refletir sobre o que se consome. Permito um jogo de significados com recortes e colagem de informações que as embalagens trazem sobre os seus produtos aos usuários. O alimento aqui tem conexões com os modos ou práticas culturais e tomadas de consciência de saúde pessoal e mesmo ambiental, mas os desdobramentos se ampliam para questões educativas, políticas e econômicas. Quem não compra nos supermercados? Ou está isento desses produtos industrializados? Como se metaboliza esse processo? Quais são os filtros?
Uso como suporte as próprias embalagens desses fast food, isto é, já usadas, literalmente, por mim mesmo; por isso o nanquim tem dificuldade de aderência causando um efeito de manchas por causa das gorduras impregnadas. As imagens em nanquim são silhuetas discretas do que menos associamos ao alimento (pelo menos no contexto urbano ocidental). Essas metáforas visuais de bichos correspondem ao que é vencido, estragado, não recomendado ao consumo humano, por isso, são provocativas à reflexão e, sobretudo à sensação do que nos alimenta pode ser também nocivo; ou seja, o cotidiano pode – se não nos percebermos – nos engolir?

domingo, 13 de março de 2011

Desenho do tipo Etnográfico


Obras premiadas no 16 Salão de Arte de Anápolis-GO/2010. Contempladas com prêmio aquisição na categoria desenho.
Andréia. Técnica mista. Ronne Dias, 2009.

Aldo. Técnica mista. Ronne Dias, 2009.
Pedro. Técnica mista. Ronne Dias, 2009.
Estes trabalhos são parte de uma série de desenhos sob o título de Rastros Identitários, que venho desenvolvendo desde 2009. É uma produção de retratos em técnica mista (nanquim, grafite, conté, carvão e caneta esferográfica) sobre papel cartão fosco ou papelão.  Esta proposta artística discute questões da vida cotidiana de pessoas simples, que atuam no trabalho informal e transportam toda uma carga de contribuições sociais, econômicas e culturais para a sociedade.
A intenção aqui também é de deslocar olhares e falas, considerar a complexidade e riqueza das posições dessas pessoas, suas histórias de vida através de alguns fragmentos particulares narrados por elas mesmas.  Faço uma abordagem do cotidiano, perspectivas de vida, pensamentos e visões de mundo de pessoas reais que também escrevem a história, em que hoje vivemos, porém, como autores anônimos.
Os procedimentos metodológicos consistem em entrevistas a partir de um roteiro previamente traçado sobre conceitos de trabalho, lazer, descanso, arte, política, felicidade, etc. São costureiras, borracheiros, vigilantes, cabeleireiros, diaristas, cozinheiras, dentre outros, que trocam experiências ao falar, muitas das vezes serve como um momento de desabafo. Alguns chegam até a lagrimar ao partilhar de usas labutas diárias.
Procuro descentralizar a autoria do artista para dialogar com as falas de outros sujeitos. Por isso, resolvi retratar as pessoas com suas próprias falas, desenhando com palavras, faço uma construção hipertextual: do verbo à imagem e da imagem ao verbo. As formas, linhas e volumes da face são tecidos com frases que expressam suas identidades, características, não em sua totalidade, mas como sinais, pegadas, rastros...
Entendo aqui como dar oportunidade a essas outras vozes, menos privilegiadas, aos debates hegemônicos e acadêmicos. Que as mesmas também são sujeitos em seus espaços e tempos.

Obra premiada no 8 Salão de Arte do SESC-AP/2010. Prêmio Incentivo. Categoria desenho.
Estudo de figura (in)humana. Técnica mista s/ papelão. Ronne Dias, 2010.
Detalhe da obra
                                  

NA ESTRADA DA VIDA CAMINHO DESENHANDO ENTRE A FORÇA DO TRAÇO E A PUREZA DO TOM.

O fascínio pelo desenho me faz recordar desde quando me dei conta por gente. Na pureza de minha infância, encantado pelos rabiscos que fazíamos (eu e outras crianças) nas paredes de madeira da residência da mamãe: desenhávamos a casa, nós e as outras pessoas que lá moravam. Tínhamos um ritual que se repetia em todas as festas de natal: marcar, com um traço, as estaturas de cada um na parede, com o intuito de registrar aqulele momento de grande alegria para nós.
"Marcar" continuou a ser uma prática cada vez mais presente em minha vida. O desenho integrou meu percurso. "Marcando" meus trajetos pude impulsionar-me para novas projeções: mergulhar em meu universo e para fora de mim... para o mundo. Uma experiência de autodescoberta, que possibilita também voltar-se para o outro reconhecendo-o como participante de minha "casa", "parede" ou prancheta. Minha experiência é uma caminhada desenhante, que ganha força quando percebo ser (o desenho) uma forma de me relacionar com o mundo, e me posicionar para o mundo.